Chegam de peito tufado, alguns passos à frente da mulher, como que querendo marcar e deixar bem clara a sua posição de macho superior, distanciando-se da fragilidade da fêmea que os acompanha, e que segue mais atrás, em passo mais lento.
Vêm de mãos a abanar ou enfiadas nas algibeiras; elas, atrás, trazem no braço a malinha, a melhorzinha que têm - afinal vêm ao senhor doutor - e na mão um saco de plástico muito direitinho com os exames para mostrar.
Vêm de mãos a abanar ou enfiadas nas algibeiras; elas, atrás, trazem no braço a malinha, a melhorzinha que têm - afinal vêm ao senhor doutor - e na mão um saco de plástico muito direitinho com os exames para mostrar.
Já na sala de espera e depois de, elas diligentemente, terem tirado a senha, e ido ao balcão entregar o papelinho, passam-nos em revista; verificam se não trazem pêlos agarrados ao pullover, se as golas estão no sitio, se as costuras dos ombros estão no sitio ... E eles, incomodados por tanta atenção, enxotam-nas com má cara e maus modos, não vá alguém tomá-los por mariquinhas; que se vão mas é sentar, que estejam quietas. E elas, submissas, lá vão, com a malinha e o saco e os sobretudos e os cachecóis, deles, que seguram no colo.
Eles ficam de pé, um pouco afastados, mãos enfiadas nas algibeiras das calças.
Até que alguém os chama ao balcão.
É aí que tudo muda; de machos arrogantes passam a cordeirinhos; todos desfeitos em mesuras e sorrizinhos e desculpas; porque não ouve bem - tem de chamar a "esposa"- porque não sabe responder - tem de chamar a "esposa"- porque não se lembra da data - tem de chamar a "esposa"- porque não sabe o nome do doutor, do exame, da doença, ou se tem outra consulta marcada ... tem de chamar a "esposa"…
E elas, submissas (rai´s as parta) vêm dar explicações, apresentam os exames, sabem as datas de cor, os nomes dos médicos e, muito condoídas, contam a estória clinica do marido
Depois, voltam à cadeirinha onde se sentam, felizes por serem tão boas "esposas", com a malinha e o saquinho, os cachecois e os sobretudos no colo.
P.S.- Há excepções também, em que o carinho e a cumplicidade estão espelhadas em cada gesto feito em conjunto, mas…são apenas excepções.
Já vi esse filme muitas vezes, quando esperava pelas consultas da minha mãe...
ResponderEliminarConsegui visualizar toda a situação...
:)
Bjs
Que bela descrição!
ResponderEliminarConsegui imaginar rostos, expressões, o local, as pessoas...até o buliço hospitalar...
Parabéns!
http://vbubbly.blogspot.co.uk/
Pois... O que seria deles, tão machos, sem elas, tão submissas mas tão eficazes esposas que eles não gostam de admitir..
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