No último dia de 2012 enquanto conduzia em direcção à Zambujeira do Mar, para a casa onde seria a festa da passagem de ano, tive um furo ainda a muitos kms do local de chegada.
A viagem depois, foi alucinante (obrigadinha às marcas de automóveis que nos metem um pneu sobresselente na mala do carro que não presta para nada e só aguentam uns quantos kms sem perder o ar); debaixo de chuva, com nevoeiro cerrado, com um pneu que não podia rodar a mais de não sei quantos kms/hora, por estradas que não conhecia (a casa fica seis passos atrás do sitio onde Judas perdeu as botas! É preciso sair da estrada e ir por caminhos de terra que, com tanta água chovida escondiam as crateras onde os pneus aterravam), foi um milagre termos finalmente chegado.
Só vos conheci no dia seguinte, quando a pedido do dono da casa, o foram chamar à casa da lenha para perguntar se conhecia alguém na localidade que me vendesse um pneu em condições que me permitisse o regresso a Lisboa.
Fez uns quantos telefonemas mas todos estavam fora, em festa com as familias, e só no dia 3 foi possivel arranjar um bendito de um pneu.
Assim, e quando todos os convidados para a festa regressaram a Lisboa (dia 2 já toda a gente trabalhava) fiquei só eu, o miúdo, a cadela, e vocês os três (Pedro, Natália e o filho pequeno).
Eu mal dei pela vossa presença; a lareira aparecia acesa, a lenha cortada e arrumada, as camas feitas, as mantinhas dobradas…e à tarde apareceu a Natália com uma consola e jogos para que "o meu menino não se aborrecesse".
Nessa noite enquanto fazia o jantar, apareceu-me um pirralho sorridente, a espreitar da ombreira da porta e logo de seguida a mãe (Natália) a chamá-lo para que não estivesse a incomodar. Pedi-lhe que ficasse e falámos um bocadinho.
Estavam há pouco tempo na casa; tinham saído da Ucrânia já há dois anos e vieram para Portugal onde o marido trabalhava no campo, à jorna. Ela aproveitava para fazer limpezas aqui e ali e foi assim que souberam daquela vaga de caseiros. Estava contente, ali tinham uma casa mesmo de verdade e o menino não tinha frio à noite como quando andavam de saltimbancos à procura de trabalho.
Tinha saudades da familia e da filha que tinha deixado com os avós mas ali, pelo menos, estavam a ganhar dinheiro que podiam enviar para casa.
Convidei-os a sentarem-se connosco à mesa mas declinaram (lá me deixaram o pequenito que comeu tudo sem dizer ai), isso seria um abuso (!!!).
Finalmente no dia 3, em passo de caracol, lá fui atrás do carro do Pedro, com o pneu já numa tripa, até à oficina mais próxima (que de próxima não tinha nada).
Pensei que me fosse deixar por lá, uma vez que o que lhe tinha sido pedido era que me levasse até à oficina, mas não; estacionou, foi falar com o dono da oficina, disse-lhe o que queria, recusou os pneus que lhe apresentaram primeiro, escolheu ele mesmo, negociou o preço, acompanhou (juntinho da máquina) enquanto calibravam o novo, obrigou-os a rodar todos os pneus (o furo foi no da frente e como o novo não era igual aos restantes, era mais seguro passar os da frente para trás), verificou ele mesmo a pressão em todos os pneus, e só descansou quando tudo ficou como ele queria; eu assistia estupefacta…
Quando tudo ficou pronto e o carro entregue, convidei-o para tomarmos um café.
Agradeci-lhe o facto de ter sido tão atencioso para connosco (respondeu-me que era o minimo para uma senhora sozinha com o filho); manifestei-lhe o meu espanto pela forma como tratou de tudo na oficina.
Explicou-me então que na Ucrânia sempre tinha sido mecânico de automóveis, que tinha mesmo chegado a ter uma oficina, com empregados e tudo, mas que tinha tido de a fechar porque a policia lhe exigia para proteção (!!!) quase tudo quanto ganhava.
Contou-me outras coisas, tantas coisas, coisas que lhe faziam pensar que nos próximos anos tudo iria piorar por lá e ele tinha era de ganhar dinheiro para trazer a filha rapidamente para cá…
Fiquei calada, por não saber o que dizer…
Quando nos despedíamos já, como agradecimento, quis dar-lhe algum dinheiro; levantou-se ofendido e não aceitou.
Tinha feito o que tinha achado por bem e não esperava retribuição.
Senti-me envergonhada por o ter ofendido.
Desculpe-me Pedro.
Tenho-me lembrado muito de vós por estes dias.
O Pedro, infelizmente, tinha razão; as coisas pioraram...
A viagem depois, foi alucinante (obrigadinha às marcas de automóveis que nos metem um pneu sobresselente na mala do carro que não presta para nada e só aguentam uns quantos kms sem perder o ar); debaixo de chuva, com nevoeiro cerrado, com um pneu que não podia rodar a mais de não sei quantos kms/hora, por estradas que não conhecia (a casa fica seis passos atrás do sitio onde Judas perdeu as botas! É preciso sair da estrada e ir por caminhos de terra que, com tanta água chovida escondiam as crateras onde os pneus aterravam), foi um milagre termos finalmente chegado.
Só vos conheci no dia seguinte, quando a pedido do dono da casa, o foram chamar à casa da lenha para perguntar se conhecia alguém na localidade que me vendesse um pneu em condições que me permitisse o regresso a Lisboa.
Fez uns quantos telefonemas mas todos estavam fora, em festa com as familias, e só no dia 3 foi possivel arranjar um bendito de um pneu.
Assim, e quando todos os convidados para a festa regressaram a Lisboa (dia 2 já toda a gente trabalhava) fiquei só eu, o miúdo, a cadela, e vocês os três (Pedro, Natália e o filho pequeno).
Eu mal dei pela vossa presença; a lareira aparecia acesa, a lenha cortada e arrumada, as camas feitas, as mantinhas dobradas…e à tarde apareceu a Natália com uma consola e jogos para que "o meu menino não se aborrecesse".
Nessa noite enquanto fazia o jantar, apareceu-me um pirralho sorridente, a espreitar da ombreira da porta e logo de seguida a mãe (Natália) a chamá-lo para que não estivesse a incomodar. Pedi-lhe que ficasse e falámos um bocadinho.
Estavam há pouco tempo na casa; tinham saído da Ucrânia já há dois anos e vieram para Portugal onde o marido trabalhava no campo, à jorna. Ela aproveitava para fazer limpezas aqui e ali e foi assim que souberam daquela vaga de caseiros. Estava contente, ali tinham uma casa mesmo de verdade e o menino não tinha frio à noite como quando andavam de saltimbancos à procura de trabalho.
Tinha saudades da familia e da filha que tinha deixado com os avós mas ali, pelo menos, estavam a ganhar dinheiro que podiam enviar para casa.
Convidei-os a sentarem-se connosco à mesa mas declinaram (lá me deixaram o pequenito que comeu tudo sem dizer ai), isso seria um abuso (!!!).
Finalmente no dia 3, em passo de caracol, lá fui atrás do carro do Pedro, com o pneu já numa tripa, até à oficina mais próxima (que de próxima não tinha nada).
Pensei que me fosse deixar por lá, uma vez que o que lhe tinha sido pedido era que me levasse até à oficina, mas não; estacionou, foi falar com o dono da oficina, disse-lhe o que queria, recusou os pneus que lhe apresentaram primeiro, escolheu ele mesmo, negociou o preço, acompanhou (juntinho da máquina) enquanto calibravam o novo, obrigou-os a rodar todos os pneus (o furo foi no da frente e como o novo não era igual aos restantes, era mais seguro passar os da frente para trás), verificou ele mesmo a pressão em todos os pneus, e só descansou quando tudo ficou como ele queria; eu assistia estupefacta…
Quando tudo ficou pronto e o carro entregue, convidei-o para tomarmos um café.
Agradeci-lhe o facto de ter sido tão atencioso para connosco (respondeu-me que era o minimo para uma senhora sozinha com o filho); manifestei-lhe o meu espanto pela forma como tratou de tudo na oficina.
Explicou-me então que na Ucrânia sempre tinha sido mecânico de automóveis, que tinha mesmo chegado a ter uma oficina, com empregados e tudo, mas que tinha tido de a fechar porque a policia lhe exigia para proteção (!!!) quase tudo quanto ganhava.
Contou-me outras coisas, tantas coisas, coisas que lhe faziam pensar que nos próximos anos tudo iria piorar por lá e ele tinha era de ganhar dinheiro para trazer a filha rapidamente para cá…
Fiquei calada, por não saber o que dizer…
Quando nos despedíamos já, como agradecimento, quis dar-lhe algum dinheiro; levantou-se ofendido e não aceitou.
Tinha feito o que tinha achado por bem e não esperava retribuição.
Senti-me envergonhada por o ter ofendido.
Desculpe-me Pedro.
Tenho-me lembrado muito de vós por estes dias.
O Pedro, infelizmente, tinha razão; as coisas pioraram...
Sem comentários:
Enviar um comentário