Off, off you go!

Dormir cansa-me cada vez mais.
É de noite que me atacam; gente que vive (deve viver) dentro da minha cabeça, que dorme durante o dia e à noite acorda e me arrasta nas suas aventuras.
Quando adormeço aparecem todos, os que conheço, os que não conheço de lado nenhum, os que se conhecem entre eles, os mortos e os vivos, personagens de filmes que vi e livros que li, e outros que devo de ter criado algum dia na minha imaginação, misturam-se nos meus sonhos e vivem dentro da minha cabeça (estou a pensar passar a cobrar-lhes renda; alguém sabe como se faz um contrato a esta gente).
 Levam-me com eles de um lado para o outro, e tão depressa sou uma mera observadora como de seguida me vejo envolvida nas suas confusões; tão depressa estou de visita a um bosque magnifico como tão depressa tudo se transforma e ora é um descampado amontoado de carros velhos e tralhas, casas velhas com divisões que se sucedem vertiginosamente, barcos que navegam em águas transparentes e onde eu do alto do cesto da gávea alcanço todo o horizonte e vejo os cais mais próximos; tanto posso estar a nadar tranquilamente como de seguida mergulho do cimo da ameia de um castelo (juro que não sei como vou ali parar), como a seguir abro uma porta (estavas na água lembraste? como raio foste parar a um sitio com porta?) e dou de caras com um grupo a tomar chá, conversando tranquilamente e alguém me põe um bebé no colo.
Gente, gente, que fala sem parar, riem, discutem, voltam a conversar, andam de um lado para o outro em movimento contínuo; às vezes mentem imenso uns aos outros e eu tento dizer que é mentira mas a voz não me sai.
E se acordo durante a noite tento sacudi-los da minha cabeça, mas assim que adormeço tudo recomeça; outras gentes, outros lugares, mais aventuras…
Levanto-me extenuada.