A saia da assessora ou a importância que se dá ao que não interessa nada

Na minha casa há sempre flores, manias minhas, e para além das que planto nas floreiras e das que compro para as jarras, há sempre mais umas quantas que, por serem diferentes, suscitam sempre admiração e perguntas.
"Que giras!", "Como se chamam?", "Onde as compraste?"
Na maior parte das vezes não sei o nome delas, e não sei o nome delas porque as colhi nos passeios que dou com a Mel aqui pelas redondezas.
Algumas das pessoas que me fazem estas perguntas são pessoas que moram mesmo aqui ao pé de mim, e que têm também cães com quem fazem os mesmos passeios do que eu.

"Mas onde? Eu nunca as vi!" respondem-me.

Claro que não as viram; elas não são as flores óbvias que os jardineiros camarários plantam para embelezar o jardim; não são as hortenses que crescem em molho, no jardim, nem as margaridas que ladeiam o parque infantil, e nem tão pouco as rosas que enfeitam os pátios de entrada dos prédios; são, algumas vezes, pequenos tufos rasteiros que nascem aqui e ali, outras pequeninas flores amarelas que nascem no meio do matagal, lá ao fundo onde os jardineiros camarários não limpam, pode ainda ser que eu tenha levantado os olhos e olhado para uma árvore que começa a rebentar e tenha apanhado um galhinho ou outro, com florzinhas que anunciam a Primavera, ou, no Outono quando as folhas mudam de cor…

Não são óbvias…é preciso olhar para lá daquilo que nos plantaram à frente dos olhos (as hortenses, as rosas, as margaridas) e para onde querem que olhemos.

Que importância tem a saia da assessora e tanta outra treta que nos servem de bandeja para nos entreter, quando há muito mais para olhar?