sábado, 31 de agosto de 2013

Puta que pariu, futebol clube! Que cagaço!

E hoje fomos a Delft.
Desembocando, finalmente (a estação de comboio é um bocadinho afastada e as obras ali à volta também não facilitam) na praça central logo somos atingidos pela imponência da Nieuwe Kerk (igreja nova) com a sua torre altaneira (108,75m).
Naturalmente que comecámos a visita por aí; comprámos os bilhetes (um para visitar a igreja e outro para subir à torre).
Depois de vista a igreja (raios, quem viu uma, já viu todas) lá enfiámos a chapinha que nos abriu a portinhola para subir à torre.

Uma escada estreitinha, estreitinha, em caracol com uns degraus estreitinhos, estreitinhos (uns em madeira e outros em pedra, daqueles bem polidos pelo tempo e porreiros para escorregar), e vai de subir; nesta altura eu ainda acreditava que aquilo era só para nos levar até um qualquer patamar onde estaria um elevador para nos levar ao cimo.

Sobe, sobe, ao mesmo tempo que nos afastávamos (espalmávamos contra a parede na verdade) para deixar passar quem descia; eu devia ter percebido pela cara dos que desciam brancos como a cal, mas não...continuei.
A mocinha que seguia à nossa frente com o namorado dizia-lhe "não consigo olhar para baixo (ah, esqueci-me de dizer, os degraus eram abertos) não estou a gostar disto, não estou a gostar disto"; eu ria-me para o Mais Que Tudo e continuávamos a subir, a subir, a subir... e outros a descer, a descer... e nós a espalmarmo-nos contra a parede...

E a bifa à minha frente continuava "não estou a gostar disto; não posso olhar para baixo...se deixarmos cair alguma coisa não se lhe aproveita nada"
Por esta altura eu já tinha percebido que elevador era coisa que não existia e perguntava ao Mais Que Tudo quantos degraus pensava ele que a coisa teria.
E continuámos a subir, a subir, a subir... e os outros a descer, a descer...
Achei por bem começar a controlar a respiração se queria chegar ao topo (começava a acusar algum cansaço).

Finalmente acedemos à sala do relógio onde pudemos ver o maquinismo da coisa, os sinos e...descansar um bocadinho.
E houve que continuar a subir (a bifa recusou-se a subir); os degraus estreitinhos, a escada em caracol, nós espremidos contra a parede para os outros descerem, o calor a apertar e agora uma novidade; há que passar a subir de cabeça baixa!

De x em x metros umas placas na parede têm um botão de pânico e o número a marcar em caso de emergência (Pff, pensava eu, para quê? Primeiro isto não mete medo a ninguém e depois também não dá tempo de cá chegar seja quem for, para ajudar no que seja).

E subiamos, subiamos, subiamos...e de repente uma náusea...um enjôo...e comecei a sentir uma quebra de tensão...mas se eu nem de barco enjôo... olha para longe, olha para longe, fixa a linha do horizonte (como se diz a quem enjôa no mar)...qual horizonte? Só esta parede em espiral a 5 cm da minha cara!
Mais um degrau e outro, ainda outro...o coração disparado...a dificuldade em respirar...um aperto no peito... a visão começa a fugir-me... a cabeça azamboada... FODA-SE! É UM ATAQUE DE ANSIEDADE! CLAUSTROFÓBICA! ESTOU COM UM ATAQUE DE CLAUSTROFOBIA!
E agora? QUERO SAIR DAQUI!
Continuo a subir...
Estendo a mão até à mão do Mais Que Tudo e digo-lhe o mais calma que consigo "estou a ter um ataque de pânico" (ele diz que lho disse a sorrir com o ar mais calmo do mundo; ar de parva digo eu).

Milagrosamente, um nicho na escada dá acesso a um compartimento pequenino (onde está um mecanismo qualquer que faz tic, tac, tic, tac); lá dentro, agarrado ao botão de pânico está já um homem sozinho, branco como a cal.

Tiro a mala que levo ao ombro, o casaco que tinha vestido, e abano-me com o folheto que me entregaram à entrada; ar, preciso de ar; os joelhos tremem, bem como todo o resto de mim; quero sair daqui; para sair só descendo mas acho que pioro se me meto outra vez às escadas; ar, preciso de ar!

Dentro da minha cabeça repito o mantra "está tudo bem, está tudo bem; é só a minha cabeça, não é real; está tudo bem, está tudo bem" e visualizo o mar, o meu mar azul... e ignoro o tic, tac, tic, tac, atrás de mim.

Uma claridade repentina vinda do vão da escada diz-me que há ali uma janela; preciso de ver a rua!
Vou até lá, é uma varanda, mas lembro-me que estou a 85m do chão (até onde a escada sobe; 376 degraus) e no estado em que estou ainda sou capaz de ter um ataque de vertigens (que também nunca tive, mas já estava por tudo) e por isso entro de costas só para sentir o vento; tremo, tremo... mas recupero a compostura suficiente para voltar a sair e entrar no pequeno compartimento;

Quando entro um cheiro horrível no ar; o tipo que lá estava agarrado ao botão de pânico (um espanhol soube depois) tinha-se borrado todo!

Não tenho outra solução; a única saída é para baixo; faço-me à escada com os joelhos a tremer repetindo o mantra na minha cabeça, e obrigando-me a abstrair das paredes tão próximas, sempre em espiral, sempre em espiral; Mais Que Tudo vai à frente segurando a minha mala e o meu casaco; obrigo-me a descer um degrau de cada vez espremendo-me contra a parede para que passem aqueles que sobem (familias com crianças pequenas inclusivé); à minha frente algumas pessoas descem no mesmo estado que eu dizendo "deviam avisar quando vendem os bilhetes"; verdade que deviam.

Muito a custo chego ao piso térreo, e acho que nunca saí tão depressa de um sitio.
É já no largo cá fora que começo a acalmar-me, mas os joelhos recusam-se a parar de tremer.

Se um dia forem a Delft, talvez seja melhor evitarem subir à torre.
(à esquerda o sitio onde a coisa se deu e à direita o que se via de lá de cima; o Mais Que Tudo registou porque eu não estava capaz)

12 comentários:

  1. Caramba, que até a mim me faltou o ar só a ler. E olha que não costumo ter vertigens. Até já saltei da Macau tower, mas assim "comássim", vou ver se me lembro disto se alguma vez for a delft. E a louça, gostaste?

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    1. Saltaste?!!!
      UAU!
      (Acho a loiça grosseira, quando comparada com a nossa)

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  2. É bom para lá levar a minha mulher se me quiser ver livre dela. Boa dica... Lol

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  3. Fogo! Acho que não sobrevivia... uma vez tive um fanico desses na Torre de Belém, que também tem uns degraus altos e fininhos, num corredor apertado... mas que só tem para aí uns 20 metros de altura :DDD

    (Ah... já me estava a esquecer do estacionamento do Corte Inglês...)

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    1. Ah ah ah ah ah eu desço sempre a suster a respiração, o carro a apitar por todos os lados, luzes encarnadas atrás e à frente, a avisar-me que estou a escassos cms da parede, já me habituei mas quando aquilo abriu evitava lá ir só por causa dos acessos ao parque. Depois descobri a entrada de cima e respirei.

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    2. Pedrinha, senti isso mó México. É verdade que estava ressacada e com um escaldão do jipe. Subi 3 degraus e voltei a descê-lis de gatas, sob um imenso olhar de gozo. Não me dou bem com escadas estreitas e íngremes.

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    3. Nem eu, acabei de descobrir!

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  4. Pronto, eu fiquei na parte em que o senhor se borrou todo...

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  5. Registado...pena o mau bocado que passaste...eu tenho a mania de subir a tudo o que há para subir e até ao cimo...até ver dei-me bem...mas nunca se sabe!!!!
    Beijinhos
    Maria

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  6. Erm... E fazerem um jogo de Consola para a Nintendo? Eu estava a ler o post ao som da música do Super Mário (mente parva demasiado fértil).
    Quando for visitar os meus amigos em Delft vou mostrar-lhes este post!
    Chiça... Nem pensar ir a essa igreja!!!

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  7. ora, eu cá nem sonhava em subir :s tanto chorei na roda gigante com meia dúzia de metros imagino aí :S

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  8. Eu que tenho claustrofobia e historial de crises de ansiedade li de olhos arreganhados este relato. A experiência pode ter sido péssima mas deu um óptimo texto.

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