Querida Mãezinha, dás cabo de mim!

1º acto

A protagonista chega à casa materna e vê Querida Mãezinha em estado de concentração absoluta, debruçada sobre a mesa da sala.

À sua frente jaz, de barriga aberta e vísceras de fora, a prótese auditiva (Querida Mãezinha é surda que nem três portas onduladas).

A protagonista fala (grita):

- O que é que estás a fazer?

Querida Mãezinha dá um salto de susto e responde: Partiu-se-me o aparelho estou a ver se o colo com VERNIZ DAS UNHAS.

2º acto

No quarto de arrumos jaz um enorme cadeirão antigo (já na quarta geração da familia), manco de uma perna, e com o fundo do estofo do assento rebentado.

A protagonista abre a porta e ao vê-lo, suspira e resmunga: Carambas outra vez...

Farta de o transportar às costas, para o doutor dos cadeirões de cada vez que o dito se descadeira, lê-lhe a setença final: 

- Hoje vais fora; calha bem porque amanhã há feira da Ladra e pode ser que alguém te pegue!

Fecha a porta atrás de si e por razões que aqui não vêm ao caso sai de cena para ir ao carro.
O palco fica vazio.

3ª acto

A protagonista regressa e enquanto sobe as escadas do prédio ouvem-se barulhos de pancadas bonc, BONC, bonc, BONC, bonc, bonc, bonc, BONC...

A protagonista grita enquanto sobe os degraus dois a dois:
- Nããããããããããão!

Abre a porta...e vê Querida Mãezinha, qual boneco articulado (mas com maior grau de violência), erguendo e baixando um martelo sobre o cadeirão que cospe lascas de madeira pelos ares.

Antes de que a protagonista se faça ouvir, uma lasca pontiaguda atinge-a em plena testa!

4ª acto

A protagonista com uma mancha de betadine na testa, armada de pinça retira das mãos as últimas farpas que se lhe meteram por debaixo da pele no transporte do moribundo cadeirão.

FIM