Hoje faz anos

o primeiro homem da minha vida; o meu primeiro amor!
O azul dos teus olhos foi o primeiro mar onde nadei, os teus braços, o meu primeiro ninho.
Ao teu lado aprendi a caminhar, a correr, a nadar, a furar ondas, a dar cambalhotas, a atar o nó nos sapatos, a atirar com uma fisga, a subir às árvores, a fazer flautas com canas, a andar de bicicleta (achas que ainda sei), a ler e a amar os livros, a fazer camas e roupeiros e cabides em madeira, para as bonecas (a mãe brincava com elas, nós faziamos o trabalho dos homens), a conhecer as estradas, a contar os kilometros, a atar e prender uma carga, a limpar feridas, a gostar dos animais, ensinaste-me o poder do humor, e o valor de dizer apenas uma vez uma coisa; ensinaste-me que as regras também podem ser quebradas.
Contaste-me milhões de estórias, da estória da tua vida, fizeste-me querer ser destemida e aventureira, inventaste estórias de aventuras e mistério em que acreditei piamente, e algumas até hoje, confundo-as com a realidade.
Explicaste-me que às vezes os "maus" não são maus, e ensinaste-me a justiça.
Mostraste-me como era bom atravessar os campos ao nascer do sol e a beleza de um fim de tarde na praia.
Falaste-me do carinho dos avós, dos sonhos que tinham para ti, e das patifarias que fizeste; para eu não as repetir.
Ensinaste-me o carinho num só olhar, e mostraste-me linda, reflectida nesse mar azul dos teus olhos.
Um dia disse-te que ia ter um filho igual a ti, e cumpri.
Podia aqui continuar até ao infinito, mas prefiro ir aí dizer-te tudo, bem juntinho a ti.
98 anos!
Parabéns meu Pai.